4 de outubro de 2009

CIA planejou terror no Brasil sob regime militar-Cientista Marta Huggins

84ª SESSÃO/ORDINÁRIA, EM 11 DE OUTUBRO DE 2001.
Presidência dos Deputados Francisco Appio, José Ivo Sartori e Mário Bernd.
Às 15h15min, o Sr. Francisco Appio assume a direção dos trabalhos

CIA tinha licença para matar no Brasil

Cientista americana Marta Huggins estuda a atuação da CIA. na América Latina; Martha investigou a atuação da CIA. no Brasil após ter acesso aos documentos secretos do governo americano que foram liberados pelo presidente Bill Clinton. Cconta que em troca de recursos para treinamento, EUA tinham liberdade para agir em solo brasileiro
AMAURY RIBEIRO JR., FABIANO
LANA E RAPHAEL GOMIDE

BRASÍLIA – O engenheiro químico americano Robert Hayes não foi o único agente da CIA (Serviço Secreto dos Estados Unidos) a desembarcar no Brasil para participar de ações de espionagem e repressão contra militantes de esquerda durante o regime militar (1964-1985), conforme divulgado ontem pelo Jornal do Brasil. Especialista nas relações entre a CIA e os governos latino-americanos, a cientista política americana Marta Huggins confirma que outros agentes do serviço de espionagem vieram ao Brasil com a mesma missão confiada a Hayes.

O pedido feito pelo FHC para os EUA abrir escritório de Inteligência americana em São Paulo.

De acordo com suas pesquisas, nas décadas de 60 e 70 a CIA doou recursos para o treinamento de 100 mil policiais brasileiros. Em troca, a CIA tinha liberdade para agir no Brasil. A cientista descobriu que em palestra secreta a senadores americanos, um diretor da CIA informou que a polícia brasileira participava da tortura. O governo brasileiro, argumentou o diretor, justificou o uso de tortura para evitar o risco de os comunistas tomarem o poder.

As pesquisas de Martha apontam que as ligações da CIA com o Brasil foram intermediadas por um organismo denominado Office of Public Safety (OPS), que oferecia técnicas de uso de armamentos até ajuda na formação de esquadrões da morte. Oficialmente, a CIA atuou no Brasil no intuito de "democratizar os sistemas penais dos países beneficiários". Por trás da fachada democrática sustena a brasilianista, os agentes participavam até de assassinatos.

Fachada – "Esse tipo de colaboração foi muito mais comum do que se imagina. Por baixo da fachada de treinamento de policiais, a CIA sempre conseguiu se infiltrar no Brasil", afirmou a professora, que está em São Paulo ministrando um curso para estudantes universitários americanos. Martha é professora titular de sociologia do Union College, em Schenectady, estado de Nova Iorque.

Martha investigou a atuação da CIA no Brasil após ter acesso aos documentos secretos do governo americano que foram liberados pelo presidente Bill Clinton. Suas conclusões foram, reunidas no livro Polícia e política: Relações Estados Unidos/América Latina, recém-lançado pela Cortez Editora. De acordo com Martha, as autoridades americanas sempre souberam que os agentes da CIA praticavam atividades ilegais no Brasil. A população americana, entretanto, ignorou o assunto.


Os documentos reunidos pela professora comprovaram que a CIA esteve por trás da montagem do Serviço Nacional de Informações (SNI) até mesmo questões como formação de pessoal qualificado e organogramas. A OPS, escreveu Martha em seu livro, elogiou uma série de atitudes repressivas promovidas pelo governo brasileiro como a instituição da pena de morte e a deposição do vice-presidente Pedro Aleixo em 1969.

“A History of Death Squads in Rio de Janeiro and São Paulo”
Na década de setenta e início da de oitenta outros grupos de extermínio passaram a agir no Rio em geral e baixada Fluminense em particular. Entre outros destacou se um sinistro personagem denominado “Mão Branca” que, na verdade escondia um grupo de extermínio, telefonava para os jornais fornecendo o paradeiro de novos corpos. Outro grupo de extermínio que agia na Baixada entre os anos setenta e início dos oitenta foi o “Killing”, composto por policiais que ainda estavam na ativa, ex policiais civis e militares. Apenas nos anos setenta, esse grupo teria matado aproximadamente 500 pessoas na Baixada Fluminense. Nesse período, os grupos de extermínio no Rio também passaram a serem chamados de “polícia mineira”.
Apesar dos novos tempos do esquadrão da morte a polícia do Rio ainda continuou, durante algum tempo, a agir de forma espetacular como na época de Le Cocq. Este foi o caso do denominado “12 Homens de Ouro”. O grupo era considerado a elite da polícia e foram oficialmente escolhidos, em 1969, pelo Secretário de Segurança general Luís França. Os “Homens de Ouro” foram criados para coibir a criminalidade e proteger os motoristas de taxi que estavam sendo assaltados e mortos pela quadrilha “bandeira 2”. Na verdade, em grande parte, a criação de um grupo de policiais com licença para matar foi, segundo um de seus integrantes o policial “Sivuca”, para “(…) acalmar a imprensa, dar satisfação à sociedade”. Entre os participantes do grupo estava o policial Mariel Mariscott que também se dedicava a ser “leão de chácara” de muitas das boates da zona sul do Rio, onde circulavam a elite e a classe média carioca. Acusado, entre outros crimes, de envolvimento com “bicheiros” e traficantes de drogas, Mariscott acabou preso e condenado a cumprir pena no presídio da Ilha Grande.
Além dos ‘Homens de Ouro”, que eram uma outra versão do esquadrão da morte, o general França também participou da repressão e perseguição aos inimigos políticos do regime militar. Entre outra, coordenou um comando nacional formado pelo Serviço Nacional de Informações ( S.N.I), polícia federal e polícia de vários estados, para tentar capturar Carlos Marighela. O Esquadrão do Rio de Janeiro também participou da repressão política. Pelo menos uma militante em 1972, Aura Maria Nascimento Furtado foi morta sob tortura pelo Esquadrão da Morte na Invernada de Olaria. Entretanto, segundo Hélio Pereira Bicudo, os principais serviços de informações da Ditadura Militar situavam se no Rio de Janeiro. Contando com as informações privilegiadas destes serviços de informações, a Ditadura não teria se utilizado do Esquadrão da Morte no Rio de Janeiro, da mesma forma como teria ocorrido em São Paulo. Nessa cidade, a Ditadura teria cooptado o Esquadrão para agir contra os inimigos do regime.
Martha Huggins aponta as relações existentes entre os militares envolvidos na luta contra a guerrilha e grupos de policiais pertencentes aos Esquadrões da Morte de estados brasileiros. E, segundo a autora, estas relações também eram compartilhadas por alguns consultores de segurança norte americanos que davam assessoria militar e policial e cooperavam com o governo ditatorial brasileiro. E foi neste período e apenas em algumas situações, que os militares brasileiros teriam se preocupado com a maneira como os esquadrões operavam nos estados brasileiros.
Huggins relata o caso, em fins dos anos sessenta, do esquadrão da morte no Espírito Santo. Naquele estado ele atuava através de policiais e delegados de polícia, com acusações de envolvimento nas atividades do esquadrão do Governador do Estado e do Secretário de Segurança Pública, irmão do Governador. O temor dos militares encerrava se no fato de que, alguns destes grupos, poderiam estar vendendo armas apreendidas com bandidos comuns e as revendendo aos guerrilheiros e opositores do regime como forma de lucrar com esta transação. As apurações revelaram que, além das armas, o grupo estava envolvido com roubos de carros e falsificações de documentos. Além de tortura e homicídio os membros do esquadrão local eram acusados de terem enterrado vivas algumas de suas vítimas. Anos mais tarde os militares teriam deixado de apoiar a demissão de secretário e do governador “(…) talvez porque a investigação estadual independente estivesse também revelando a relação dos próprios militares com os esquadrões da morte”.
No início dos anos sessenta, apesar do Esquadrão da Morte já estar atuando, no Rio de Janeiro o perfil da marginalidade ainda era diferente em relação aos nossos dias. Alves relata que os bandidos da época não portavam armamentos pesados e sofisticados como freqüentemente ocorre nos dias de hoje. No máximo que portavam era um revolver
calibre 38 e os punhais, navalhas e facas eram o mais comum. E, também praticamente não existia menores envolvidos com o crime violento. Em geral os bandidos na época viviam bem mais do que os de hoje. E, ainda não existiam as gangues e facções do crime organizado. Os bandidos, em geral reuniam se em bandos compostos por dois ou três para atuarem no mundo crime.
Nessa época os assaltos a bancos ainda não eram comuns. Tanto que, o famoso assalto ao Trem Pagador, realizado no Estado do Rio de Janeiro pela quadrilha de “Tião Medonho”, impressionou o país. Já em São Paulo, nos anos sessenta, um dos marginais que chamou atenção da população foi o “Bandido da Luz Vermelha”. Especializado em assaltar residências de luxo, homicida e estuprador, ele foi preso e condenado a uma pena de 30 anos de prisão.
Mas assaltos brutais também começaram a ocorrer. Em 1965 no bairro do Leblon, o latrocínio ocorrido no supermercado Peg Pag, onde dois assaltantes armados com um revolver 38 e uma metralhadora mataram quatro pessoas, chocou o Rio de Janeiro. No mesmo ano, em São Paulo, aproveitando se de uma greve de delegados da polícia, ao meio dia e em pleno centro da cidade, uma quadrilha formada por gregos armados com revolveres calibre 38, assalta uma camionete do Banco Moreira Salles, matam um funcionário e fogem com 500 milhões de cruzeiros. Após 1967 os assaltos, principalmente aos bancos, começaram a ficar cada vez mais comuns. Uma parte deles foi planejada e praticada por grupos guerrilheiros que se opunham ao governo militar e agiam assim para angariar fundos pala a luta armada contra o regime.
Outros assaltos começaram a serem realizados por quadrilhas que passaram a se armar cada vez mais. Um desses grupos foi comandado por Lúcio Flávio. Preso e condenado, Lúcio Flávio foi assassinado na prisão no Rio de Janeiro.
Em 1968 o esquadrão da morte no Rio de Janeiro tinha matado pelo menos 250 pessoas. Apenas em, Nova Iguaçu, baixada fluminense, entre 1970 a 1976, o esquadrão da morte assassinou 594 pessoas. Foi apenas em 1970 que foi criado no Rio de Janeiro uma Comissão Especial de Combate ao Esquadrão da Morte. No início da década de sessenta os membros do esquadrão eram tidos por setores da imprensa, autoridades e parte da população como um grupo de policiais valentes, honestos e que estavam limpando a cidade de marginais perigosos.
Exemplos disso podemos encontrar na imprensa e publicações do período. As ações policiais passaram a serem contadas como verdadeiras façanhas urbanas em que o policial era mascarado de herói e ainda em muitos casos, a imprensa sensacionalista acabava fabricando supostos bandidos perigosos para serem devidamente perseguidos pela polícia. Um dos inúmeros exemplos podemos encontrar no jornalista David Nasser, no Programa Diário de um Repórter, chamou os membros do esquadrão de “(…) os missionários do general França ( então Secretário de Segurança), os empreiteiros de Deus”12. Outro trabalho dos anos sessenta, um romance policial escrito pelos jornalistas Amado Ribeiro e Pinheiro Júnior13 narrou as ações de Le Coq e o seu grupo no Rio e baixada fluminense. Nesse livro, que começava com uma advertência dos autores de que seus personagens são reais, com exceção da personagem do bandido Minuano, uma mistura real de vários bandidos, os membros do esquadrão são apresentados como policiais honestos, valentes, defensores da sociedade e que matavam apenas em legítima defesa.
Jornais como a Última Hora, A Luta Democrática, O Dia, Notícias Populares faziam sucesso utilizando o binômio sexo e crimes para atingir as camadas populares da população. Em janeiro de 1968 a revista Realidade publicou uma matéria sobre o universo do jornalismo policial brasileiro e o texto da reportagem começava narrando o trabalho de Carlos Vinhais, então redator chefe da Luta Democrática : “(…) nessa noite não tinha havido nenhum crime de morte. Vinhais sobe na mesa, abre os braços e grita com toda a força, trágico, e patético: Quero um cadáver! Todo mundo nos telefones. Pelo amor de Deus, me arranjem um crime! Estou sem manchete”14. As redações desses jornais ferviam quando Rosa Vermelha e Lírio Branco, relações públicas do esquadrão carioca e paulista telefonavam com o endereço de novos “presuntos”, isto é, anunciando a localização a onde estavam os corpos de supostos marginais executados pelo grupo.
Rosa Vermelha, o relações públicas do esquadrão do Rio de Janeiro, ao telefonar para a redação de um jornal a fim de fornecer o número dos mortos da semana confessou o seguinte: “sinto um prazer quase sexual ao ver as balas perfurando os corpos dos criminosos e o sangue brotando como uma rosa vermelha da terra”. O mesmo Rosa Vermelha ao telefonar no ano de 1968 para o jornal carioca Última Hora, comunicou a filosofia do esquadrão: “A distância entre a justiça e a polícia nem sempre permite um combate eficaz ao crime e aos criminosos. Assim, só nos resta falar a linguagem deles: a lei do cão. Sempre que contamos com o apoio de um secretário da Segurança que quer ver a cidade livre do crime, nós trabalhamos como agora. Foi assim na época do general Kruel, de Gustavo Borges e está sendo agora com o general França. Esperamos que o distinto público da Guanabara compreenda nossa intenção”
Outro jornalista que começou a ficar famoso neste período foi o jornalista policial e radialista Afanásio Jazadi que, posteriormente, tornou se Deputado Estadual em São Paulo. A partir de 1967, em São Paulo, na Folha da Tarde, especializou em cobrir as principais ocorrência policiais, assaltos e atentados da guerrilha urbana em São Paulo e, principalmente “(…) pelo menos 150 locais de crimes do Esquadrão da Morte17”. Em 1972, Afanásio Jazadi iniciou a sua carreira na Jovem Pan com polêmicos programas de radio nos quais as ocorrências policiais e ocupavam um grande destaque.
Mas se os policiais truculentos eram festejados por segmentos da população, a intelectualidade começou a perceber de forma diferente e até a romantizar a figura do bandido, como um dos produtos de uma ordem social injusta. A morte de Mineirinho suscitou reflexões por parte de Clarice Lispector e José Carlos de Oliveira ( Carlinhos de Oliveira). O artista plástico Hélio Oiticica prestou várias homenagens a Cara de Cavalo. Uma delas foi a bandeira poema “Seja Marginal, Seja herói”. As camadas populares começaram a ser objeto de preocupação. Os estudantes, através da União Nacional de Estudantes ( U.N.E), criaram em 1961 o Centro Popular de Cultura ( C.P.C), que buscava construir uma cultura brasileira que fosse nacional, democrática e popular. Para os lados da universidade, os pesquisadores começaram a subir o morro e a realizar trabalhos sobre a vida de populações marginalizadas pelo sistema. E, também, pesquisas e teses sobre as condições de sobrevivência do homem do campo, que vivia miseravelmente e cuja solução passava por uma reforma agrária.
This entry was posted on July 25, 2007 at 3:18 pm and is filed under Brasil, Brazil, Financial Press. You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0 feed. You can leave a response, or trackback from your own site. -Leave a Reply

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