28 de novembro de 2010

Prefeitura do Rio volta a atacar após a farsa eleitoral

Durante a farsa eleitoral, temendo prejudicar a votação dos seus aliados, o gerenciamento municipal (Eduardo Paes - PMDB) estacionou os tratores do "choque de ordem". Passadas as eleições, reeleito o gerente estadual Sérgio Cabral (PMDB), a prefeitura retomou as remoções de famílias e pontos comerciais nos bairros pobres, expulsando, assim, inúmeras famílias de trabalhadores para os mais remotos cantos da cidade. Com exclusividade, a equipe de reportagem de AND registrou a revolta dos moradores da favela da Restinga durante operação de remoção da prefeitura que marcou a volta do "choque de ordem" ao Recreio dos Bandeirantes.
A casa da aposentada Rosete Caldas cercada pelo entulho deixado pela prefeitura. Vejam o  prédio de luxo ao fundo da foto; - querem acabar com os pobres!... jogá-los na rua!...
Na manhã do dia 22 de outubro, PMs, policiais civis e guardas municipais ocuparam os acesso à favela da Restinga, no Recreio dos Bandeirantes, zona Oeste do Rio, abrindo caminho para os tratores do "choque de ordem". Era manhã quando o telefone da redação de AND tocou e, nervosa, uma moradora do bairro denunciava a ação do "choque de ordem". Funcionários da prefeitura já marretavam as paredes dos estabelecimentos comerciais na entrada da Restinga. Moradores que observavam a operação nada podiam fazer diante do aparato de guerra mobilizado pela prefeitura.
A reportagem de AND e de outros órgãos de imprensa que cobriam a ação foram impedidos de filmar ou fotografar o início das demolições. As equipes de reportagem do monopólio dos meios de comunicação deixaram o local sem registros da barbárie levada a cabo pela prefeitura. Mas, com a ajuda de moradores da Restinga que nos deram acesso às lajes e varandas de suas casas,  AND conseguiu registrar mais esse crime do Estado reacionário contra o povo pobre.
A moradora Rosete de Brito Caldas, de 64 anos, vive há 35 no local e teve a estrutura de sua casa danificada pela demolição de um estabelecimento comercial vizinho. Ela relatou à nossa equipe o desespero dos moradores com a chegada do "choque de ordem" e a indignação de quem está prestes a perder sua humilde morada.

Eles chegaram às 8h da manhã dando ordem ao dono do lote daqui da frente para tirar tudo de dentro porque eles iam demolir. Eu disse: ‘meu deus, pra quê isso?’ E eles disseram : ‘Isso é lei, minha senhora. Nós estamos cumprindo a lei’. Eu nunca pensei que fosse passar por essa tragédia de ver a minha casa sendo demolida. Querem me dar 8 mil, mas isso não vale nem o preço dos meus móveis. Onde eu vou comprar uma casa com esse dinheiro? Além do mais, as casas que eles estão nos oferecendo são muito longe daqui, não tem um hospital por perto e eu já tenho idade. E se eu tiver um problema de pressão, quem vai me socorrer? A minha filha trabalha aqui, o meu genro trabalha aqui, como é que nós vamos para lá? — pergunta dona Rosete.
É muita injustiça o que eles estão fazendo. A gente está tentando na justiça pelo menos uma indenização melhor. Derrubaram o imóvel aqui do lado e isso abalou a estrutura da nossa casa. Se cair uma chuva mais forte, vai entrar água na minha casa. Como pode eles chegarem aqui querendo derrubar a nossa casa, sem avisar nada, sem pagar nada? Mesmo que paguem, em dois, três dias, como nós vamos conseguir outra casa, onde nós vamos guardar os móveis nesse tempo? Vamos morar na rua? Eu não quero sair daqui — protesta a aposentada que teve a entrada de sua casa bloqueada pelo entulho do imóvel vizinho.
Membro do Conselho Popular, Maurício Braga, de 50 anos, era o mais revoltado dos moradores da Restinga que acompanhavam a ação. Enquanto os agentes do "choque de ordem" atacavam, Maurício elucidava aos moradores o caráter de classe da operação e a necessidade de se organizar um movimento de resistência das populações da Restinga e das favelas vizinhas também ameaçadas de remoção pela prefeitura, como a Vila Autódromo e Amavam.
Essa região é extremamente cobiçada pela especulação imobiliária por conta do seu desenvolvimento acelerado nos últimos anos. Com isso, os moradores nativos daqui, que praticamente fundaram essa região, têm sido ameaçados, intimidados pela prefeitura. O meu sentimento com toda essa situação é de muita indignação e revolta, porque o que está acontecendo com os moradores daqui da Restinga é uma grande covardia — diz.
O Estado não é neutro. O Estado está representando aqui os interesses econômicos de uma determinada classe. E nós, moradores da Restinga, estamos sendo vítimas desses interesses econômicos. Esse povo não interessa para eles. Somos as massas excluídas, pois não temos condições de consumir os bens produzidos pelas classes dominantes. Aqui, no entorno da Restinga, nós podemos ver prédios com apartamentos de 300, 400 mil reais e o trabalhador ganha 510 reais, logo, ele está fora. Ele não serve para essa região. Aqui, nós somos considerados poluição visual para a classe média-alta, para a burguesia que vive no Recreio dos Bandeirantes. Mas nós estamos fazendo o possível para resistir a esse plano do Eduardo Paes — garante Maurício.
Durante a operação da prefeitura, moradores de várias outras comunidades ameaçadas de remoção foram à Restinga prestar solidariedade aos moradores e comerciantes da favela. Ainda pela manhã, representantes das favelas do Metrô, Vila Autódromo e Recreio II chegavam ao local para somar forças na tentativa de barrar as demolições, o que acabou acontecendo. Diante da pressão dos moradores, apoiados pelo Núcleo de Terras da Defensoria Pública do Rio e por vários movimentos que lutam pelos direitos do povo, a prefeitura demoliu seis estabelecimentos comerciais e foi embora deixando a maioria das moradias intacta: prova da vigorosa organização dessas populações contra os obscuros planos de Eduardo Paes. Patrick Granja | Rafael Gomes A Nova Democracia – Leiam!...

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