8 de janeiro de 2009

David Zylberstajn - O vendedor de estatais paulistas


Uma fábula em dinheiro - Em São Paulo, as três hidroelétricas - CESP, Eletropaulo e Companhia Paulista de Força e Luz - estão sendo privatizadas. Elas valem 42 bilhões de dólares, mas o Governo paulista só espera arrecadar 10 bilhões com a venda. Para onde é que vai o restante do dinheiro? À frente deste negociação - as cifras são gigantescas: só a CESP opera 22 hidroelétricas que produzem 23% da energia gerada no Brasil; só São Paulo consome mais energia do que todos os países do Mercosul juntos, fora o Brasil - está ninguém menos do que o genro do Presidente   Fernando Henrique, David Zybersztajn, secretário estadual de Energia do Estado. Este é o segundo familiar de FHC envolvido em negócios suspeitos. O primeiro é a nora Ana Lúcia Magalhães Pinto, casada com Paulo Henrique Cardoso e indiciada juntamente com os irmãos donos do Banco Nacional, que já causou ao país um prejuízo de cerca de 10 bilhões de dólares. Depois do escândalo, Paulo Henrique arrumou uma separação com Ana Lúcia e passou a namorar Tereza Collor de Mello, viúva do irmão do ex-Presidente Fernando Collor de Mello.

O secretário de Energia de São Paulo, David Zylberstajn, não é apenas o genro do presidente Fernando Henrique Cardoso, mas também a principal estrela na equipe de governo de Mário Covas. Com um método pragmático e objetivo conseguiu reverter prejuízos crônicos das três estatais elétricas (Cesp, CPFL e Eletropaulo), que em 1996 registraram os primeiros lucros dos anos 90.  Zylberstajn vai divulgar o lucro da Cesp (a maior das três), que deverá ultrapassar R$ 200 milhões (pela correção integral). Mas nem tudo é céu de brigadeiro, existe uma dívida global de R$ 8,498 bilhões que precisa ser paga, dentre as quais a maior de todas é a da Cesp, de R$ 6,2 bilhões. Para auxiliar no alongamento deste débito serão lançados eurobônus de até R$ 700 milhões em abril. O saneamento feito nas empresas tem entusiasmado os investidores estrangeiros que formaram dez consórcios para disputar as elétricas do estado, um ativo de R$ 22 bilhões. Discreto, moderno e bem relacionado, ele tem conduzido como um maestro a tênue linha das vaidades pessoais, e tem conseguido manter unidas as diretorias das estatais. O secretário corre contra o relógio e sabe que o êxito da gestão Covas está diretamente associado ao seu trabalho. É vender ou vender. Porque será da privatização das elétricas que virá o grosso dos recursos necessários para os investimentos diretos no Estado.  
Nos dias 10, 11 e 12 últimos, o senhor participou de um road show em Nova Iorque mostrando o desempenho das três estatais para mais de 200 administradores de fundos de investimentos para países emergentes. Como foi a receptividade dos americanos?  
- A repercussão foi muito boa, principalmente pelo fato de que as pessoas que lá estavam tinham mais certezas de investir do que dúvidas sobre a validade do processo. E esse sentimento foi reforçado pelos resultados positivos das empresas elétricas de São Paulo, que hoje estão relativamente saneadas, de vez que há muito trabalho a ser feito, especialmente na Cesp, que tem um endividamento de R$ 6,2 bilhões. Mas, por outro lado, é a melhor empresa do Brasil em termos operacionais. Quer dizer, nós temos trabalho na área de finanças da empresa. Mas, de qualquer modo, se for analisada a história dessas empresas, vamos observar que houve mudanças. A Eletropaulo e a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) tiveram lucros no ano passado de R$ 188,6 milhões e R$ 198 milhões , respectivamente, depois de anos operando no "vermelho". Já a Cesp, que é uma empresa com ativos de R$ 20 bilhões, foi muito penalizada pela nova legislação, que não corrige os ativos; mas, mesmo assim, a empresa teve um lucro pela correção integral R$ 199,8 milhões (até 30 de setembro de 1996). Pela legislação societária ainda apresenta um prejuízo de R$ 397 milhões.  
- É verdade que a Cesp poderá apresentar um lucro superior a R$ 200 milhões pela correção integral, no seu balanço de 1996?  
- O Conselho de Administração da Cesp se reuniu ontem para fechar o balanço, que deve acompanhar essa tendência. Se levar em consideração a correção integral, provavelmente poderá ser superior a R$ 200 milhões. Eu digo provavelmente porque esses números somente vão ser formalmente conhecidos no decorrer da semana, depois de encaminhados para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).  
- A Cesp vai lançar papéis no exterior para alongar a sua dívida?  
- Em abril, no máximo em maio, pretendemos lançar eurobônus que podem ser de até US$ 700 milhões, com o objetivo de alongar a dívida da empresa. Mas antes o Conselho de Administração precisa aprovar o lançamento. O que posso dizer de concreto é que as condições serão de taxas em torno de 9% ao ano, com dez anos de carência e sem nenhum aval. O que mostra a credibilidade da Cesp no mercado internacional. - Como os investidores estrangeiros estão acompanhando a política econômica do país? E como o atual cenário nacional está repercutindo na privatização paulista?  
- No ano passado, participei de um seminário promovido também pela Abrasca (Associação Brasileira das Companhias de Capital Aberto) em Nova Iorque e notei que havia uma certa desconfiança quanto à estabilidade econômica do país. Eu diria desconfiança não no sentido de que não daria certo, mas sim da sedimentação do Plano Real. Um ano depois, a estabilidade permanece e a inflação continua decrescente. E isso dá um ânimo melhor. Por outro lado, a estabilização faz com que as tarifas sejam efetivamente reais. A perda que nós tinhamos no valor das tarifas no passado, em função da inflação, foi eliminada. A materialização de que as tarifas remunerem o investimento fez com que os investidores estrangeiros passassem a olhar o Brasil como um país de economia estável.  
- E quanto ao mercado, como os estrangeiros estão vendo o potencial da privatização das elétricas em São Paulo 
- O mercado brasileiro é hoje, seguramente, em termos de tamanho, um dos mais importantes do mundo. No Brasil, o mercado paulista é o maior de todos. Eu dei um exemplo da importância do nosso mercado que chocou os investidores. Eu disse que aqueles que entrarem na privatização da energia paulista estariam como que entrando na privatização da Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia, e estariam praticamente privatizando todo o Mercosul, com exceção do Brasil. Isso levando em consideração que esses mercados cabem todos no de São Paulo.  
- Uma outra questão que nos chama atenção ainda no setor energético é a privatização da Companhia de Gás de São Paulo (Congas). Quando será lançado o edital que vai definir as regras para a contratação das empresas de consultoria que farão a formatação de venda da empresa?  
- Até o final deste mês lançaremos o edital que vai escolher a empresa de consultoria que vai fazer a modelagem do sistema de gás do Estado. Seria natural, desde o início, que a Congas entrasse nesse processo de privatização. Mas ela entrou depois das elétricas; primeiro porque é uma empresa que nós imaginávamos que na mão do Estado poderia agregar um valor ainda expressivo.  
Por exemplo, a empresa, até o ano que vem, vai estar distribuindo 50% mais gás do que ela distribui hoje. Isso significa mais mercado e mais valor. Nesse meio tempo, nós assinamos o contrato do gasoduto Brasil/Bolívia. E por fim, nós estávamos aguardando a aprovação da lei de flexibilização do Petróleo, que acabou de ser votada no Congresso; e que deixou claras uma série de questões que até então nos impediam de imaginar a privatização da Congas.  
- Em termos legais, como fica a privatização da empresa, pois, por lei, o gás é monopólio do Estado?  
- Nós temos ainda que encaminhar à Assembléia Legislativa uma proposta de emenda constitucional, acompanhando o que aconteceu na Constituição Federal, para retirar a obrigatoriedade da presença estatal na exploração de gás; isso já está pronto e até o final do mês será encaminhado aos deputados. Todo esse processo faz com que a Congas deva ser privatizada no início do ano que vem.  
- Secretário, há possibilidade de privatização do setor de transmissão da Eletropaulo e da Cesp?  
- A lei do Programa Estadual de Desestatização exige que o Estado detenha na área de transmissão no mínimo 51% das ações, o que significa dizer que, em tese, os outros 49% podem ser vendidos a outros agentes, especialmente da iniciativa privada. Então, também em tese, podemos imaginar que as ações das empresas de transmissão que estão na Eletropaulo e na Cesp poderiam ser vendidas.  
Agora, nós estamos estudando é a maneira que nós iremos configurar o setor de transmissão do Estado de São Paulo. Antes de dizer que a gente vai vender, precisamos saber como o governo federal vai configurar a área. A partir da definição da União, nós podemos imaginar - empresas independentes de transmissão; fusão das duas empresas; ou até mesmo uma parceria estratégica com a Eletrobrás.  
- E como estão os contatos com a Eletrobrás ?  
- Nesta semana o presidente da Eletrobrás vem a São Paulo; e um dos assuntos que nós vamos procurar aprofundar é exatamente essa questão da empresa de transmissão. Onde, no caso da Eletrobrás, além de participar minoritariamente na empresa paulista que estamos imaginando; nós estaríamos discutindo a forma da criação de um condomínio entre as empresas de transmissão de São Paulo e Furnas - que pertence à União. Ou seja, podemos criar uma espécie de condomínio operacional - ou melhor ainda uma empresa regional de transmissão integrada.  
- Secretário, quando serão divulgados os consórcios vencedores que estão disputado o direito de fazer a avaliação econômico-financeira e formatação de venda da CPFL, Eletropaulo e Cesp?  
- A nossa intenção é que a contratação ocorra em abril. Isso porque é uma avaliação muito complexa que exige a leitura minuciosa de toda a documentação, e depois a checagem dos documentos apresentados. Existem propostas de até 900 páginas. - ANTONIO XIMENES (Agência JB - 18.03.97)  

Nenhum comentário: