8 de janeiro de 2009

David Zylbersztajn - Genro de FH é o sheik do petróleo

David Zylberstajn
O homem do petróleo 
Seus amigos costumam dizer que ele é tão alto astral que consegue se dar bem até com o governador de São Paulo, Mário Covas. Para quem não entendeu a piada: o governador é famoso pela facilidade com que se irrita com os interlocutores. Para os que o conhecem de longe, em encontros de trabalho, entrevistas rápidas ou palestras, o personagem é ‘‘educadíssimo, culto, mas marmóreo’’. Responde superficialmente sobre a vida pessoal. Esfrega as mãos uma na outra, enquanto a mente trabalha para controlar as palavras. As piadas sobre judeus e tiradinhas engraçadas ficam reservadas mesmo aos mais próximos. Aprendeu rápido a ser político, esse David Zylberstajn.
  David o quê? Zilberstain, na transcrição mais próxima da pronúncia correta. Um nome tão complicado que se tornou um problema no ano passado, quando pensou em se candidatar ao cargo de deputado federal. Concorrer com o apelido, Duda, não dava.
  Aos 43 anos, David é o diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, o homem que, nas palavras do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, foi escolhido para desmontar o esqueleto da Petrobras, ‘‘osso por osso’’. Antes disso, foi secretário de Energia do Estado de São Paulo, onde chegou depois de uma carreira universitária. É preciso acrescentar que se trata do genro do presidente Fernando Henrique Cardoso. É casado (sem papel passado, sem aliança) com a filha mais nova do presidente, Beatriz.
  O casal se conheceu na Europa. Ele morava em Grenoble, na França. Ela, em Barcelona, na Espanha. Tinham amigos em comum que pediram a David que, numa ida a Barcelona, levasse uma encomenda para ela. Começaram a namorar pouco tempo depois, passaram a morar juntos e hoje têm dois filhos — Julia, de 8 anos, e Pedro, de 4. 
Bomba atômica
A posição de David na ANP é estratégica para os planos do governo. Ele está na direção da autarquia que vai concretizar a quebra do monopólio da exploração do petróleo do Brasil, há 45 anos nas mãos da Petrobras. A ANP está no controle de um negócio de valor incalculável. Ninguém arrisca um palpite sobre quanto dinheiro pode render a venda do direito de exploração de algumas bacias de petróleo. Na Venezuela, para citar um exemplo que o próprio David costuma repetir, poços inicialmente avaliados em US$ 400 mil, foram arrematados por US$ 2 bilhões.
A abertura do setor petrolífero é a coroação do projeto privatista do governo federal. É uma demonstração inequívoca ao público externo de que o Brasil está mesmo se abrindo ao capital estrangeiro. Vai ser uma guerra, como também definiu o ministro Sérgio Motta. Se a privatização da Cia Vale do Rio Doce, a mineradora mais identificada com a história brasileira, no ano passado, causou uma comoção nacional e uma batalha judicial sem precedentes, a venda de recursos petrolíferos de valores bilionários tem o potencial de uma bomba atômica.
  David nasceu em Niterói, mas foi criado no Rio de Janeiro. É filho de judeus poloneses, mas nunca foi praticante. Mesmo assim, é influente na comunidade judaica paulista. No Rio, David estudou engenharia mecânica na Pontifícia Universidade Católica PUC), militou na esquerda e na farra. Ainda adolescente, tornou-se amigo de alguns dos rapazes que hoje fazem o programa Casseta & Planeta, da Rede Globo. Eles se conheceram numa entidade judaica chamada Kinderland, onde faziam animação para crianças.
  ‘‘Era uma entidade progressista, de esquerda’’, explica Marcelo Madureira, um dos integrantes do grupo. ‘‘Havia uma identidade pessoal e política entre nós, porque gostávamos de muita brincadeira e tínhamos ligações com o PCB’’. São amigos até hoje. David costuma se encontrar com Marcelo, Bussunda e outros ‘‘cassetas’’ para almoçar ou jantar — e rir. Adora piadas, garante Marcelo, mas não é um bom contador. Não leva jeito para repetir sotaques e trejeitos, nem mesmo naquelas mais cabeludas sobre judeus. 
  Desde que assumiu a direção da ANP, há menos de um mês, David tem falado duro contra a Petrobras. ‘‘Não estou em guerra contra ninguém e nem vou atirar primeiro’’, afirma. Modéstia. David assumiu o posto atirando. ‘‘O país quer menos monopólio e mais petróleo’’, disse ele. ‘‘Agora, o petróleo é vosso’’. O pessoal da Petrobras se mordeu de raiva. ‘‘De quem era o petróleo? De alguns, da Petrobras? Era e é da União, que agora quer vender tudo para empresas estrangeiras’’, reagiu o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Ricardo Maranhão. 
Interesses em jogo
  A agência e a Petrobras estão numa disputa para definir quais os poços de petróleo brasileiros que serão vendidos para outras empresas. De cara, a Petrobras reivindica o direito de exploração de 391 áreas, lugares em que já se sabe que há petróleo. Quer fazer isso em parcerias com outras empresas. David já avisou que não vai topar. O que a ANP pretende, num prazo curtíssimo, é avaliar a capacidade de investimento da Petrobras e deixar com ela apenas parte daquelas áreas. As demais devem ser licitadas já em agosto.
  Não é assim que a Petrobras vê o negócio. Na empresa, acredita-se que a ANP está entregando um patrimônio brasileiro a empresas estrangeiras. Essa é a ponta visível de um negócio de bilhões de dólares no qual há muitos e grandes participantes. Às eventuais parceiras da Petrobras, por exemplo, não interessa participar de disputas públicas. 
  Também há ligações perigosas na Petrobras. Um dos membros do conselho da empresa é o empresário Benjamin Steinbruch, acionista da CSN e da Vale do Rio Doce, com negócios que vão até aonde a vista alcança. O presidente da Petrobras, Joel Rennó, é atualmente identificado com o chamado grupo baiano, do qual fazem parte o presidente do Senado, Antônio Carlos Magalhães, e a Construtora Odebrecht, aquela que ganhou um contrato privilegiado com a empresa. O que lhe deu o direito de participar de quase todos os negócios da estatal. É nesse vespeiro que David vai mexer.
  ‘‘Ele não entende nada de petróleo e não sabe o que acontece nesse setor’’ , acusa Ricardo Maranhão, o presidente da Aepet. O currículo de David no mundo dos grandes negócios é mesmo pobre. Ele veio da universidade. Já deu aulas na Unicamp (Universidade de Campinas) e na USP (Universidade de São Paulo) e consultorias para empresas. Deu até aulas sobre hidrelétricas a índios no Xingu e em Roraima.
Passaporte paulista
  Seu passaporte para a ANP foram os três anos na Secretaria de Energia de São Paulo, onde implantou o programa de privatização das centrais elétricas. Sob a sua direção, o governo vendeu no ano passado a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz). Também assinou o contrato para a construção do gasoduto Brasil-Bolívia. Foi seu primeiro encontro com a Petrobras, que vai construir o duto, em lados opostos da mesa de negociação. A estatal pretendia manter o controle sobre a distribuição do produto. David defendia a participação de outras empresas. A Petrobras queria um preço para o gás. David, outro. O novo homem do petróleo venceu todas.
  David já foi filiado ao PMDB (agora está no PSDB), mas até 1985, quando retornou da Europa já casado com Beatriz Cardoso, ninguém tinha ouvido falar dele nos meios políticos paulistas. Mostrou a cara na campanha de Covas para governador em 1994, quando coordenou a equipe que fez o programa de governo para a área energética. Foi quando deixou de ser apenas o genro do presidente.
O ciclo do combustível
A primeira fase é a extração do petroleo do solo ou do fundo do mar. É o processo geológico, do qual a Petrobras tinha o monopólio até 1995, quando mudou-se a constituição, permitindo a participação de empresas estrangeiras. O maior poço de petróleo brasileiro está na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. Este ano, a Petrobras espera produzir 1,1 milhão de barris diários de petróleo. O país precisa de 1,7 milhão de barris por dia. A diferença é importada. 
A segunda fase é a de refino — a transformação do petróleo cru nos derivados, como gasolina, diesel, nafata e querosene. Essa etapa também está nas mãos da Petrobras. Só existem duas refinarias privadas, a Ipiranga e Manguinhos, que produzem 20 barris de petróleo por dia cada uma (são quase insignificantes). Essa fase também será privatizada. Os preços dos derivados são fixos, determinados pelo governo. 
A terceira é a da distribuição, que já está por conta das empresas privadas. São elas que transportam os derivados de petróleo para o consumidor. A gasolina, por exemplo, vai para os postos. 
A ponta final são os postos de combustível ou empresas químicas que utilizam os derivados. Também são privadas. Os preços ao consumidor são liberados. (Perfil do Correio Braziliense (03.02.98)
Estratégia de Privatização:
Este pujante desempenho dentro da bilionária indústria do petróleo agora é regulado por ninguém menos que um parente de FHC, com uma política aberta voltada à privatização e desnacionalização da energia brasileira. E justo agora, que a empresa atinge um crescimento consolidado, com perspectivas ainda mais prósperas de gerar riquezas, se prepara para lançar American Depositary Receipts (ADRs) no mercado dos EUA, e procura convocar uma assembléia-geral extraordinária que permita que estrangeiros possuam ações da empresa. Pelas regras atuais, nenhum estrangeiro pode deter mais de 0,1% das ordinárias (que não dá direito à participação no processo decisório), o que segundo o Diretor-Financeiro da  estatal, Orlando Galvão, "perdeu o sentido depois da quebra do monopólio".  
A empresa já está realizando parcerias e negociações com grandes corporações multinacionais, interessadas em investir nas riquezas naturais do subsolo brasileiro. Entre elas, estão a Shell, Exxon, Conoco, Penaka, Amoco, Mobil, Elf, Unocol e Mitschui ....................    



Mendonça de Barros só soube ganhar dinheiro com as informações que amealhava no governo federal e repassava aos filhos e amigos/sócios. E é o que pretendia continuar fazendo com a privatização da Petrobrás.
O senador gaúcho Pedro Simon exigiu do presidente Fernando Henrique um desmentido público às declarações. Pressionado, FHC enviou carta ao então presidente do Senado, José Sarney, garantindo que a Petrobrás não seria privatizada “em hipótese alguma”. A pressão política sobre FHC e a transferência de Mendonça de Barros para o Ministério das Comunicações para substituir Sergio Motta, que faleceu logo depois, acabaram por enterrar o projeto.
Em março de 1999 FHC substituiu Joel Rennó por Henri Philippe Reichstul na presidência da Petrobrás e iniciou uma nova estratégia, que consistia em fortalecer a estatal e prepará-la para competir com as grandes petrolíferas estrangeiras – no Brasil e no exterior. Além do mais  a posse do Sr. Henri Philippe Reichstul aparece como algo positivo. Ora, foi justamente com ele que se levou o processo de privatização mais adiante, com a criação da Petrobrax (felizmente frustrada pela opinião pública) e com o processo de clara desqualificação da empresa.

O choque de gestão valorizou as ações, multiplicou o valor de mercado da Petrobrás e deu a partida para o modelo de empresa pública que é hoje, com capital pulverizado e mais de 500 mil acionistas privados, mas sob controle estatal.

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